segunda-feira, 31 de maio de 2010

José Pinto Sidney

Contratado pela RMV em 1942 como trabalhador, aposentou como pintor em 1972 na VFCO. Deixou quatro filhos Adilson, Tarcísio, Luiz Carlos e Ronaldo que são meus amigos de infância. Minha homenagem à família.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

MARIA FUMAÇA por Vera Lúcia Ezagui

Dedico este conto ao meu querido pai – Fortunato Ezagui – engenheiro ferroviário, que investiu todo seu sonho e o seu ideal trabalhando por 45 anos para a antiga Rede Mineira de Viação, até aposentar-se já na Rede Ferroviária Federal. Vera Lúcia Ezagui – 04/12/2000

"Há homens que, no afã de externar e impor o poder que pensam ter, destroem as maravilhosas obras criadas por Deus, e também as de seus semelhantes, enquanto outros, extremamente sensíveis, se esforçam por perpetuá-las em suas memórias.

Era através da fumaça de seu charuto “Havana” que meu pai curtia o passado, percorrendo, nos trilhos de sua memória, os momentos felizes, e até mesmo os menos gratificantes, vividos nos vagões dos trens da antiga Rede Mineira de Viação.

Passando por pontes, avistava o destino que para cada um estava reservado.

Era o olhar curioso dos passageiros que descortinava a paisagem bucólica das fazendas plantadas no seio das Minas Gerais, e das extensas planícies repletas de vegetação típica desses locais.

Ah! quantas lembranças, quantos amores, quantas saudades, quantas dores!

Lá embaixo passava um rio de águas claras e refrescantes.

Nas curvas, o trem apitava, soltava fumaça: esbravejava.

Suas máquinas gemiam ao trepidar das elevações geométricas, na troca das linhas.

Seguia o curso em frente.

O dia passava calmo como passava a vida – nada de anormal acontecia.

Maria Fumaça... Ela deslizava garbosa nos trilhos, e quando chegava numa Estação freava suavemente, parava para deixar uns passageiros e receber os outros que ali a aguardavam, se preciso fosse, muitas e muitas horas.

Sacudia as máquinas, acendia seus enormes faróis, tomava prumo para partir e apitava: “pi-u-i... pi-u-i”

Engatava a marcha e prosseguia qual uma centopéia, girando o seu corpo a cada movimento necessário.

De vez em quando, acelerava. Contorcia-se nas curvas, atravessava as pontes, emergia e submergia nos túneis, com tamanha destreza, que se não prestassem atenção, os passageiros se esqueciam de descer nas suas cidadezinhas de desembarque.

O grande corcel de ferro prosseguia: - mais fumaça!

Quando detinha rapidamente o seu curso, parelhava com outros trens. Então apitava alegremente: “pi-u-i ... pi-u-i”

Mais campinas, mais fazendas, ... – êta bicharada!

Passa trem!

Ao chegar no seu derradeiro destino, os passageiros saltavam satisfeitos por mais uma tranqüila e sossegada viagem.

Maria Fumaça cumpria mais uma etapa e aí descansava: “xi-i-i-i-i...”

E o meu pai lacrimejava. Sempre chorava quando se lembrava ou contava os “causos” da Rede: Trens – de – Ferro.

Então, inconformado, desfilava suas lamentações:

- “Mais que diacho, por que é que querem acabar com a malha ferroviária e enterrar os trens?”

- “E a Maria Fumaça, que fim pretendem dar a ela?”

- “Quanto desperdício!”

- “Que falta de bom senso atirar no bueiro o transporte ferroviário, quando nas nações de primeiro mundo ele é o mais utilizado!”

- “Que país é esse que não dá importância ao transporte mais seguro e econômico, que desbrava suas entranhas mais longínquas e resgata a cultura regional de cada rincão, sem macular a natureza, como os resíduos fortes e poluentes da gasolina fazem!”

- “Será que o governo prefere gastar enormes somas com veículos rodoviários, enquanto o transporte férreo fica delegado às traças?”

- “Santa ignorância!”

- “Quando faltar combustível para alimentar a imensa frota de caminhões, será tarde demais porque já aniquilaram a malha ferroviária.

Mais fumaça!!!

Voltar a trás nem de ré, o trecho foi acidentado e pode causar mais problemas.

- “Gente, é preciso ter mais discernimento e equilíbrio para visualizar o que pode causar, num futuro próximo, o comprometimento da linha férrea.”

E ainda dizem “Estação Primeira.”

Marias Fumaças também são gente. Elas sofrem, gemem, apitam e se desgastam, mas no final precisam descansar em paz, e não serem exterminadas a FERRO e FOGO.

Quantas nuvens... muita fumaça!

Os carros que transportavam bois e gêneros alimentícios, agora transportam FERRO: MINÉRIO DE FERRO.

É a era da industrialização impondo regras e cassando sentimentos: não há mais vida nos trens, nem dentro, nem fora.

Enquanto percorriam os trechos onde visualizavam os povoados e apreciavam a vida pacata das pessoas dos lugarejos afastados, os passageiros se embeveciam com o cheiro inebriante do famoso café-com-leite, saído da cozinha do trem.

Maria Fumaça morreu. Seu último apito foi doloroso e fúnebre.

Muitas outras locomotivas não teriam resistência para enfrentar uma morte que embora já se alinhasse a curtos passos, prometia ser muito sofrida.

O baque fatal afetou a todos. Ninguém pode conter o choro que há muito comprimia o peito dos dedicados funcionários da Rede. Agora, Rede Ferroviária Federal.

Só o excesso das cargas que transportavam em seus vagões, seria suficiente para provocar o descarrilamento dos trilhos, e a conduziriam à morte acidental.

Papai chorava porque sabia quantas mágoas as Marias Fumaças carregavam...

As esperanças se esvaem a medida que o tempo passa e vai cerceando todas as chances de ver concretizado o nosso ideal.

Há muita chuva e muito nevoeiro.

Foram-se os trilhos e nem restaram os dormentes...

Hoje, raras são as viagens ornadas pela luz radiante do sol, aquecendo as manhãs do rural!

As estações da vida tinham o cheiro do manacá. E o café-com-leite e pão era servido no interior dos trens, aos passageiros sedentos de amenidades.

Quando havia um desvio a frente nos trilhos, o trem parava, e todos se esgueiravam pelas janelas, para apreciar a simplicidade de um tronco caído ou um pequeno animal morto há poucas horas.

Eram esses fatos que mantinham os passageiros distraídos e quebravam a rotina de trabalho do maquinista, pisando no freio suavemente, sob o trilho forrado de madeira de lei.

Logo, o trem apitava e a máquina se agitava.

Maria Fumaça é um tipicamente caipira e essencialmente mineiro.

J.K. bem que gostava de viajar de trem, que o diga a sua gente da pequena Diamantina.

Quem é que não gostava?

Se os trens ainda servissem à população, certamente estariam transportando desde os cantores de música de raiz, até as bandas de rock pesado, reunindo todos num abraço fraternal, tão grande, que, embalados pela música e congregados num só ideal, fariam com que essas viagens se tornassem o símbolo da união e o veículo de suas canções.

Haja “uai”! Haja rock!

As Marias Fumaças aposentadas descansam suas máquinas sabendo que realizaram os sonhos de muitos passageiros, alegrando e amenizando a dura vida do campo, com o simples passar da carruagem de ferro.

Olhando à sua volta, percebem que a falta de recursos, inerente à sua época, em nada diminuiu a sua alegria de viver, e nem se abateram com os acidentes, as paradas amiúde, e as cargas pesadas nos carros que transportavam bois e produtos rurais.

Nos trilhos pelos quais passaram, ora desativados, foram gravadas as marcas do reconhecimento do dever cumprido.

Deixando de lado as tendências de destruição, que hoje em dia envolvem as mentes e os corações de muitos homens, há de se registrar que ainda existem na consciência de poucos, as boas lembranças vividas dentro de um trem, e mais especialmente, dentro das Marias Fumaças, que mantiveram incólume o rastro de suas rodas, o som de seus apitos e o cheiro de sua fumaça.

Diante de tudo que passaram, elas almejavam uma digna parada final, com saudações, faixas de agradecimentos e uma despedida, porque não, com abraços fraternos, e tudo mais, regados com seu delicioso “café-com-pão”, “manteiga não”.

Lá vai a Maria Fumaça! Que trem mais “bão”!

Ela leva amor, leva união. Na volta traz outro amor e mais um irmão!

Oia, cumpadi, o trem vai passar.

Passou, tudo passou.

Passou a vontade de unir as pessoas, passou o encanto e a bondade. Passou o tempo do “cavalo de ferro” que pinoteava pelas estradas ferroviárias da vida, levando notícias boas e trazendo pessoas amigas.

Passou o tempo que era até chique viajar de trem.

Restam as reminiscências nos corações dos últimos saudosistas...

Papai não está mais aqui para chorar, lamentar e lembrar com saudades o seu passado de ferroviário, mas eu fico horas a meditar e a sentir o cheiro do delicioso café-com-leite e do pão-com-manteiga, o cheiro da fumaça do seu charuto Havana e da “sua” Maria Fumaça.

“Oia gente, já vem o trem: “Pi-u-i...pi-u-i...”

Café-com-pão, manteiga-não. Xi-i-i-i-i-i...”"

Texto enviado pelo nosso amigo Sr. Roberto Sbampato Pereira, ferroviário aposentado.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Museu Bi Moreira em Lavras

O museu começou na casa de seu idealizador Silvio do Amaral Moreira (1912-1994) em 1949 e em setembro de 1983 passou para o prédio chamado Álvaro Botelho (em homenagem ao político lavrense Álvaro Augusto de Andrade Botelho), situado no campus antigo da Universidade. Este prédio foi inaugurado em 1922 para abrigar a Escola Agrícola de Lavras-EAL, depois ESAL-Escola Superior de Agricultura de Lavras e finalmente UFLA-Universidade Federal de Lavras. Neste local fiz a maioria das pesquisas do livro. Vale a pena visitá-lo.
O museu tem uma área de 900m2 onde guarda cerca de 5 mil peças divididas em dez setores: história, ciências médicas, cultura negra e indígena, guerras e revoluções, antropologia, imagem e som, tecelagem e utensílios domésticos.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Carimbos usados nas ferrovias

Carimbos da EFOM de 1915, da RMV de 1940 e da RFFSA-SR-2 de 1992

ASPECTOS CONTÁBEIS DAS FERROVIAS por Carlos Cornwall

Diante da repercussão positiva que a matéria sobre história da ferrovia no Sul de Minas tem provocado, falamos hoje em linguagem simples sobre algumas noções de contabilidade em Empresas de Transportes Ferroviários.

A construção de Ferrovias ou Estradas de Ferro depende de concessão e autorização dos Poderes Públicos, no caso o Ministério de Transporte ou DNIT, que poderá ser em parcerias no empreendimento, no caso por PPPs-Parcerias Público Privadas.

Antigamente as linhas férreas quando exploradas por particulares, gozavam de favores do Estado, como: garantia de juros, subvenção quilométrica, concessão de terras,etc.

Do ponto de vista de planejamento ou orçamento, as despesas contábeis em construção seriam: Estudos e locação - trabalhos preparatórios – terraplanagem - obras de arte – edifícios - via permanente - telégrafo (em desuso atualmente) – cercas - desapropriações, material rodante - frete de materiais - despesas gerais, etc.

Diversas leis foram criadas sobre ferrovias, desde a época do império, sendo que a Lei 641 de junho de 1852, concedia privilégio por 90 anos e juros de 5% sobre o capital empregado para as ferrovias que ligavam o Rio a Minas e São Paulo.

Com a vigência dessa lei, se construiu a primeira Estrada de Ferro Brasileira por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.

A mais importante lei sobre ferrovias foi o Decreto 2681 de 1912, considerada um marco para a responsabilidade civil no Brasil, sendo usada inclusive nos dias de hoje em decisões de processos judiciais de rodovias, elevadores,hidrovias e empresas aéreas,como referencial da justiça em ações indenizatórias.

Obs:

-Contabilidade: É a ciência que estuda a organização e o patrimônio, das empresas.

-Obras de arte: são os túneis, viadutos e aterros, entre outros bens no caminho e entorno da linha.

-Telégrafo: Antigo meio de comunicação para os trens, hoje se usa Internet e GPS.

terça-feira, 18 de maio de 2010

A decadência da estação de Conceição do Rio Verde (MG)


Criada pela Estrada de Ferro Minas-Rio em 14 de junho de 1884 com o nome de Contendas teve a presença de D. Pedro II e família Imperial na inauguração do trecho. Chegou a ter movimento de café, milho e manganês.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Estação de Conservatória (RJ) - 2004

Estação que foi inaugurada em 1881 e que hoje é utilizada como rodoviária na terra das serestas. Foi criada pela Estrada de Ferro Santa Isabel do Rio Preto que ligava a divisa dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro a Barra do Piraí (RJ) na EF D. Pedro II. A linha foi adquirida pela EF Sapucaí, depois assumida pela Rede Sul Mineira-RSM e em 1931 pela Rede Mineira de Viação-RMV. O trecho foi erradicado em 1961.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Estação de Aureliano Mourão


Foto dos anos 1910



Foto de 2007, mostrando a estação atual já sem os trilhos, pois a linha foi erradicada em 1984.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Memórias de Varginha: os áureos tempos da ferrovia na cidade

Carlos Cornwall e Antonio Marcio Lira de Almeida(*), especial para o Blog Viagem nos Trilhos

Que o assunto desperta paixões não resta dúvida e hoje cresce o movimento entre amigos e apreciadores para a volta dos transportes de passageiros em nossas ferrovias também , a exemplo da abertura do circuito ferroviário vale verde na região de Lavras, Perdões, Itumirim, Carrancas e entorno ferroviário. Também em nossa cidade em breve será criada a Associação de Amigos do Trem, visando esse resgate. Hoje mostramos um pouco da pujança que era a Ferrovia Muzambinho, que passa por nossa cidade (o trajeto era chamado de Cruzeiro/SP a Juréia/MG).

Vários trabalhadores deixaram ali sua marca e contribuiram para o progresso de nossa cidade e região, seja no transporte de cargas (café,trigo,milho,gado,cimento,etc), seja no de passageiros (como era a apreciada visita a Estação de águas de São Lourenço e até mesmo Aparecida do Norte com baldeação). Nesse primeiro de maio-dia do trabalho - nada mais justo do que homenagear esses valentes senhores que fizeram soar o apito de Marias Fumaças, Litorinas e outras locomotivas, seja através dos troles, da conservação dos trilhos, da virada dos vagões no antigo girador próximo da Igreja São Sebastião, muita história deixaram, como diria Milton Nascimento na música Ponta de Areia (Velho maquinista com seu boné - Lembra do povo alegre que vinha cortejar - Maria fumaça não canta mais - Para moças flores janelas e quintais).

A foto nos foi enviada pelo Sr.Jacy Muniz de Almeida (baiano) agente de estação que hoje com mais de 80 anos e residente em Belo Horizonte, relembra com saudade os áureos tempos dos trilhos em nossa cidade. A foto do pessoal da RFFSA foi tirada em 1968 pelo saudoso fotógrafo varginhense Agenor Zambotti e mostra a Estação de Varginha com locomotiva e vagões. Segue abaixo, escrito em ordem, o nome de todos os funcionários da estação ferroviária daquela época sendo que apenas 4 ainda se encontram vivos dos quais 3 residentes em Varginha MG.

Da direita para esquerda: Canuto: garoto junto à parede, falecido (filho do auxiliar de estação Antonio Emílio Frederico), Antonio Emílio Frederico: auxiliar de estação, falecido, Wilmington Barbosa Venga: agente de estação (residente em Varginha), Clother Lopes: agente de estação residente em Varginha, falecido ano passado, José Silva: agente de estação falecido, José Alves Quintanilha: auxiliar de estação, falecido, José Martins Coelho: auxiliar de estação residente em Varginha, Watson Barbosa Venga: auxiliar de estação, falecido, Jacy Ferreira: agente de estação falecido, Jacy Muniz de Almeida (baiano): agente de estação residente em Belo Horizonte, Jorge Silva Venga: agente de estação, falecido, Raul Bretanha dos Santos: agente de estação, falecido, Antonio Ely Barra: agente de estação, falecido, Marcos Carlos de Paiva: auxiliar de estação, falecido em varginha ano passado, Euclydes Ferreira Filho: auxiliar de estação falecido, Edval Gomes: auxiliar de estação, falecido, Joaquim Fideles: guarda, falecido, Geraldo Pereira: guarda, falecido em Varginha em 2008, Biato Costa: auxiliar de estação residente em Belo Horizonte.

Parte de baixo da direita para esquerda: José Francisco Vieira: guarda, falecido, Francisco Alves: guarda, falecido, Venâncio: guarda, falecido, Otto Cambraia: agente de estação, residente em Varginha, Josué Luiz do Prado: guarda, falecido, Joaquim Gaspar da Cunha: guarda, falecido, João Rosário: guarda, falecido, Joaquim Isidoro Ferreira: guarda, falecido, Arvelino Lopes: guarda, falecido.

No alto da locomotiva: Júlio Eloy: auxiliar de maquinista, falecido.

Na porta da locomotiva: Waldemar: maquinista, falecido.

Junto à parede: José Veloso: funcionário da rede, não da estação, falecido.

Autores:(*) Carlos Cornwall-Advogado e Antonio Marcio Lira de Almeida(Técnico Fiscal da Receita Federal)

terça-feira, 4 de maio de 2010

Estação de Carrancas com auto de linha de inspeção

Estação final do Trem Expresso Vale Verde que pretende resgatar a memória ferroviária entre Perdões e Carrancas num passeio de 100 km de linha passando pelas estações de Ribeirão Vermelho, Lavras, Engenheiro Bhering, Itirapuan, Itumirim e Paulo Freitas. Para isso foi criado o Circuito Ferroviário Vale Verde com sede em Lavras (MG) que ainda tem as cidades de Ingaí e Luminárias como parceiras.