quinta-feira, 31 de maio de 2018

Editorial: Cadê o trem?


Quanto ao recente movimento de paralisação(?) dos caminhoneiros, podemos afirmar: O Brasil é um país rodoviarista com 1,7 milhão km de rodovias, em péssimas condições. Apenas 213 mil km (12 %) são pavimentadas, sendo 20 mil km pedagiadas. Não temos uma malha ferroviária continental para transportar carga geral (e passageiros). Chegamos a ter 37 mil km de ferrovias transportando cargas e passageiros; em 1996, 28mil km foram concedidos à iniciativa privada para transportar somente cargas. As Concessionárias operam somente 12 mil km. Os 16 mil km restantes estão abandonados ou destruídos, mas podiam estar servindo ao Povo Brasileiro se o governo tivesse pulso para coibir a destruição do nosso patrimônio e exigisse que as Concessionárias o conservassem. Mais de 80% da carga transportada pelas nossas ferrovias é dos seus acionistas. Exportam commodities minerais e agrícolas, que não trazem benefícios para o Povo brasileiro. Por isso não sobra espaço nos trens pra transportar carga geral, que segue sempre por rodovia. Quase tudo que está na sua loja, na sua casa ou na sua mão, veio de caminhão (de trem não veio). Projetos ferroviários são de longa maturação. Requerem muito mais planejamento que execução. Por isso tem muitas obras paralisadas: Ferrovias Norte-Sul; TransNordestina, FIOL e outras que, quando ficarem prontas, vão servir apenas para exportação de commodities. Nossa frota rodoviária é de 66 milhões de veículos; mais de 2 milhões são caminhões e 376 mil são ônibus. A frota ferroviária de cargas é composta por 102.024 vagões e 3.024 locomotivas que transportaram, em 2017, 450 milhões/t. Seriam necessários 300 mil caminhões para transportar o equivalente. Imagine a quantidade de combustíveis consumida por essa frota? E o volume de impostos que vai para os cofres públicos? Ah!, sim, não esqueçamos: no modo rodoviário paga-se IPVA, pedágio, multas, seguros, etc.. O modo rodoviário consumiu 39,2 milhões de m3 de diesel em 2017 pra movimentar 485,6 bilhões TKU (tonelada/km útil). O ferroviário consumiu 1,2 milhão de m3 para transportar 164,8 bilhões de TKU. Faça as contas e veja quem é mais eficiente? Falando especificamente do Estado do Rio, até os anos 1950 havia 2.180 km de trilhos que foram reduzidos à metade entre os anos 1960 e 1990. Resumo da Ópera: Não somos contra os caminhões, e sim a favor da integração dos modos: caminhões e trens devem atuar em conjunto, com o trem nas médias e longas distâncias (entre 200 e 1.500km) e o caminhão carregando e distribuindo a carga nas pontas. Simples assim, fácil de entender. Oremos, pois, para que as autoridades futuras entendam isso e não comentam os mesmo erros das otoridades atuais e passadas quanto à importância do modo ferroviário.
*Antônio Pastori - Diretor Técnico Associação Fluminense de Preservação Ferroviária (AFPF)