terça-feira, 19 de outubro de 2010

Candeias (MG)

Texto de Rodrigo Cabredo, abril de 2004

A estação em Candeias é algo muito particular. A linha, apesar de antiga, tangencia o perímetro urbano da cidade num gracioso serpenteio, muito peculiar às ferrovias do oeste mineiro. Não há como, em qualquer parte da cidade, ficar sem ouvir os estrondosos apitos da locomotiva diesel que avança em qualquer horário do dia ou da noite num gostoso atrevimento. A cidade não se manifesta, a não ser pela paralisação de um par de ruas para a passagem das longas composições. A bem dizer da verdade, nem todos ficam inertes. Para os que gostam de trem como eu, qualquer apito ou ronco de motor diesel é suficiente para ativar o estado de alerta. E, lógico, largar tudo o que estamos fazendo para correr para a primeira janela, porta, fresta, o que quer que seja para poder contemplar aquela maravilha. E lá está ela ao longe. Esbravejando, bufando, sofrendo para atingir a cidade. Primeiro avista-se uma coluna de fumaça acinzentada – com a devida inclinação proporcionada pelo movimento – brotando de um extenso cafezal. Logo em seguida aparecem as máquinas, sempre em duplex ou triplex puxando gôndolas ou hoppers na maioria das vezes. Em algumas ocasiões pode-se ver algumas máquinas acopladas no meio ou no final da composição. Em questão de poucos minutos o trem vence o par de cruzamentos, diz um olá apressado para a estação e vai embora, com seus roncos diminuindo de intensidade até serem absorvidos pelas montanhas à frente. Em noites calmas é possível ouvir ao longe a melodia composta pela passagem das rodas nas junções dos trilhos. A estação assiste a tudo calada. Como uma velha aposentada que está em fase de contemplação de tudo. Com a modernidade ela perdeu a função. Os staffs há tempos a deixaram. Algumas propagandas completamente desbotadas daqueles antiqüíssimos remédios regionais, expostas em placas na plataforma, resistem ao tempo e retratam uma época. Como companhia, apenas os prédios de um velho armazém e da belíssima casa do chefe, abandonada do outro lado da linha, com uma visão magnífica dos trilhos e da cidade. Apesar de algumas mudanças para abrigar um posto de polícia, ela ainda tem o charme de uma estação ferroviária. Às vezes ela até recebe a parada de algum trem esperando cruzamento ou ordem para seguir. Também recebe visitas freqüentes de um intrépido automóvel de linha que pernoita em sua esplanada. Os passageiros ficaram em sua memória. Porém ainda resta o cheiro dos dormentes, o estalar dos trilhos e a sensação de ter chegado uns 50 anos atrasado!

Extraído do site www.estacoesferroviarias.com.br de Ralph Mennucci Giesbrecht


Um comentário:

  1. Lindo texto, fiquei com vontade de escutar este trem também!Um abraço.

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Ricardo